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O Luxo a Serviço da Arte

Há poucas semanas, tive o privilégio de participar de uma conversa com Beatriz Milhazes. Após a exibição do documentário “Arquitetura da Cor”, sobre sua obra, essa artista brasileira mundialmente conhecida – e valorizada – doou seu tempo, simpatia e atenção falando à pequena plateia sobre seus trabalhos e inspirações.

Foi durante esse evento que a ouvi mencionar Aquarium, uma obra inusitada em sua carreira e incluída no filme. É um trabalho tridimensional, que ela compôs a convite da joalheria francesa Cartier. Embora já tivesse ouvido falar do projeto, decidi buscar mais informações a respeito e que compartilho aqui.

A criação de Beatriz foi desenvolvida pelos ateliês Cartier ao longo de dois anos e concluída em 2011. Trata-se de um móbile de 15 fios, alguns dos quais alcançam quase dois metros de comprimento, adornados por mais de 14 mil quilates de pedras preciosas, pérolas e metais. A peça é inspirada nas padronagens e cores que caracterizam a maioria dos trabalhos de pintura e colagem da artista e inclui elementos da estética carnavalesca. Sua beleza é potencializada pela iluminação e pelas variações visuais possibilitadas pelo movimento das peças. É uma obra triplamente preciosa – pelos insumos nela empregados, pela peça monumental de joalheria que ela representa e, especialmente, por seu caráter artístico.

Uma reflexão de Beatriz me sensibilizou em especial. Em linhas gerais, dizia que, diferentemente das telas que cria, seus trabalhos tridimensionais envolvem objetos preexistentes, que têm, assim, personalidade própria: texturas, formas e cores previamente definidas. Especificamente em relação a Aquarium, comentou que, enquanto as tintas podem ser misturadas ou diluídas até que cheguem ao tom sonhado, as pedras preciosas submetem a criação artística a suas próprias cores. Para utilizá-las, é necessário curvar-se à sua essência.

Essa reflexão me trouxe à lembrança palavras de Jules Sauer, fundador da Amsterdam Sauer Joalheiros e com tive a oportunidade de conviver por muitos anos. Ele sempre repetia que cada gema é única na natureza e que a criação de uma joia devia se render às suas características naturais – dimensões, formato, coloração.

Assim como nas joias descritas por “Seu Julio”, as cores e texturas das belíssimas pedras disponibilizadas pela Cartier parecem ter se revelado para Beatriz, a um só tempo, instrumentos e limitadores para sua criatividade. E o resultado foi encantador. Um momento em que o luxo prestou um serviço à arte. Ou que ambos – luxo e arte – se uniram para prestar um serviço precioso aos nossos olhos.

Por Rosana de Moraes, em ago’2017

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