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Novo Momento para os Relógios de Luxo

Produtos de luxo envolvem valores que os afastam do raciocínio puramente utilitarista. Nesse universo, não é a função que determina o valor de um objeto. Caso fosse, o que justificaria a compra de um relógio cujo preço pode chegar aos seis dígitos se as horas podem ser conferidas com precisão similar em um exemplar de cinquenta dólares?

Vale conhecer mais sobre a Alta Relojoaria. Quando nos referimos a ela, estamos falando de relógios que têm seu berço e mais respeitada origem na Suíça e envolvem basicamente duas categorias: os modelos “complicados” (complicated watches) e os relógios-joia.

Os relógios complicados são aqueles que oferecem a seu usuário qualquer informação além das horas, minutos e segundos. Um calendário ou um segundeiro em exibição independente já representam complicações, que alguns denominam, em português, como “sofisticações”. E o elenco de complicações é bastante vasto. Nele desfilam indicadores de fases lunares, de signos do zodíaco, mecanismos sofisticadíssimos expostos através de fundos de safira transparente, cronógrafos, flybacks, tourbillons atenuadores do efeito da força da gravidade, calendários perpétuos, tudo arrematado por designs primorosos. Tais peças, verdadeiras obras de arte, são frequentemente elaboradas do início ao fim por um único mestre relojoeiro, que pode levar meses até a conclusão do trabalho.

Para os apreciadores dos relógios complicados, além de sua beleza e da credibilidade de que sua marca desfruta, conta o prazer de apreciar e entender a riqueza dos mecanismos, a arte da precisão e da minúcia, a beleza das formas, a valorização da elaboração por mãos humanas, o desejo de compartilhar informações com outros amantes do assunto. Costumeiramente, a paixão por essa “relojoaria arte” cresce com o conhecimento sobre o assunto, tal como acontece com a maioria dos itens do universo do luxo. Trata-se de um mundo para apaixonados, conhecedores e colecionadores.

Os chamados relógios-joia, conforme seu nome deixa antever, são aqueles que utilizam metais e pedras preciosos, incluindo ou não complicações técnicas. Há modelos com aros, mostradores e até pulseiras cravejados de diamantes ou pedras de cor. Outros, mais minimalistas, utilizam esses adornos de forma mais discreta, muitas vezes sobre o ouro ou a platina.

Mas o mercado de relógios de luxo vem passando por algumas transformações, impostas pela chegada ao mercado dos smartwatches. Os “relógios inteligentes” oferecem tecnologia digital de ponta, com funções como a conectividade, possibilidades de customização do layout do mostrador e das informações a serem exibidas, monitoramento de funções vitais e comunicação com outros equipamentos, entre muitas outras. São atrativos bem diversos dos que se busca em um relógio suíço tradicional.

Diante desses novos concorrentes, já há marcas suíças de grande prestígio, como Bulgari, Montblanc e Tag Heuer, incluindo em seus modelos de alta relojoaria novas complicações tecnológicas digitais. É uma demonstração de que é possível conciliar as duas vertentes. E, em abordagem diversa das marcas tradicionais, é crescente a aproximação entre a relojoaria e a moda, de forma similar à que tem acontecido com a joalheria. Tal tendência é demonstrada pela importância crescente conferida às linhas de relógios, inclusive smartwatches, por marcas mais conhecidas por suas peças de vestuário e acessórios de luxo. São exemplos Dior, Chanel, Hermès e Louis Vuitton, entre outras.

No momento atual da relojoaria, observa-se que, de um lado, o luxo tradicional se rende a alguns recursos do mundo digital, procurando aliar a eles sua afinidade com a arte manual. E, de outro, a tecnologia digital se rende a traços próprios da relojoaria tradicional de luxo, introduzindo, em alguns modelos, até caixas em ouro 18 quilates, e à moda, com pulseiras assinadas por marca de acessórios de alta qualidade, como a francesa Hermès.

Cada um à sua maneira, tanto os smartwatches de alto padrão como os exemplares modernos das marcas suíças tradicionais e aqueles mais vinculados às marcas de moda, trazem consigo aspectos subjetivos do consumo de luxo: beleza, alto valor, exclusividade, qualidade e uma boa dose de status. E talvez tal mistura contribua para criar nos consumidores mais jovens, mais afeitos a usar os smartphones também para ver as horas, o hábito e a paixão pelos instrumentos de pulso.

Por Rosana de Moraes, em fev’2018

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