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Luxo para o Olfato e para a Alma

Luxo “é o prazer quando ele é compartilhado”.

A frase é de Jean-Claude Ellena, responsável pelos perfumes da maison Hermès entre 2004 e 2016. Em seu livro, O Diário de Um Perfumista, e ele a utiliza para descrever como entende as fragrâncias.

De fato, um bom perfume é um presente para quem o utiliza e também para aqueles que estão à volta. Não bastasse o impacto momentâneo, a impressão causada por um aroma pode permanecer para sempre associada a determinada pessoa, já que o olfato é considerado o sentido mais ligado às nossas emoções e memória.

É importante lembrar que essas percepções são resultado não só da mistura artística e técnica de álcool com essências. Elas são fruto da interação entre a escrita concebida pelo perfumista e nossos próprios odores. Assim, o perfume que exalamos é nossa assinatura olfativa, muito pessoal. Também são muito pessoais nossas preferências aromáticas. Tanto que, em Paris, há as chamadas “perfumarias de nicho”, que se dedicam a desenvolver de fragrâncias exclusivas, personalizadas individualmente segundo o gosto de cada cliente.

Para as marcas de luxo, os perfumes são importantes “itens de entrada”, responsáveis muitas vezes pela primeira aproximação com novos consumidores. Devido a seu valor comparativamente reduzido frente aos seus demais produtos, eles representam um pedacinho da marca admirada, portador de todos os seus atributos e qualidade.

Embora muitas vezes ligados a nomes da indústria da moda, eles desfrutam de permanência mais prolongada no mercado que as coleções de vestuário. Apesar disso, a dinâmica de lançamentos é bem mais frenética do que no passado, quando uma fragrância ficava em produção e evidência por décadas. Hoje, há centenas de novidades a cada ano e podemos contar nos dedos os clássicos que permanecem. Entre eles, o Chanel No. 5, lançado em 1921, e, segundo a atriz Marilyn Monroe, a única coisa que ela “vestia” para dormir.

A arte da elaboração de perfumes nasceu no Egito, por volta de 2000 a.C., tendo como clientes os faraós e os membros importantes da corte. Seu uso foi difundido pelo mundo ao longo do tempo, mas foi na França, a partir do século XIV, que ocorreu o grande desenvolvimento dessa indústria. O país permanece como referência máxima no segmento, tendo a cidade de Grasse como paraíso da perfumaria de luxo.

Da cidade de 52 mil habitantes saem essências de aromas que farão parte de perfumes de marcas como Chanel, Van Cleef & Arpels, Givenchy, Thierry Mugler, Estée Lauder, Hermès, Dior: jasmim-da-espanha, rosa centifólia, flor-de-laranjeira, íris, jacinto, violeta, lírio, rosa damascena-da-bulgária, rosa-damascena-da-turquia, jasmim-sambac… Em Grasse, um em cada doze habitantes depende diretamente da indústria dos aromas, que alimenta também o turismo. Além dos campos de flores, fica também na cidade o Museu Fragonard, dedicado à história da perfumaria.

Os “narizes”, como são chamados os perfumistas, chegam a reunir numa escritura olfativa algo em torno de 300 matérias-primas de uma vasta paleta de aromas, num processo criativo que pode levar mais de um ano. Tudo para nos proporcionar um prazer a ser vivido no instante e permanecer na memória.

Como reflete Jean-Claude Ellena, o perfume “nada mais é do que emoção”.

Por Rosana de Moraes, em out’2016

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