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Luxo para Degustar – O que Dizem as Embalagens dos Vinhos

Recentemente, assisti a sommelier Deise Novakoski falando sobre a necessidade de disseminar o conhecimento sobre o vinho, de forma a permitir esse prazer a um número cada vez maior de pessoas. Fazendo minha parte, compartilho aqui dicas sobre o assunto, algumas transmitidas por ela mesma e outras que aprendi por aí. Elas dizem respeito à comunicação que o produtor estabelece com o consumidor, não através de informações impressas nos rótulos, mas de elementos não verbais. Sim, o design da embalagem – assim como a aparência do vinho e até das taças que se utiliza – faz parte do prazer da degustação. Mas a questão aqui vai além do estilo.

Antes de tudo, é importante lembrar que há vinhos já engarrafados que ficam melhores com o tempo. São os chamados “vinhos de guarda”. Porém há outros, mais jovens, normalmente de preços mais baixos, que não ganham nada e ainda perdem bastante qualidade caso sejam armazenados por tempo excessivo. Cada vinho tem seu ponto de maturidade e esse é um dos motivos pelos quais vale a pena entender os recados enviados pelo produtor.

Os indicadores começam pelas rolhas. E, para falar nelas, deve-se recordar que a cortiça é um material escasso, originado da casca de uma árvore – o sobreiro. Os bons sobreiros, que produzem cortiças adequadas ao uso nos vinhos, existem apenas na região do Alantejo, em Portugal. Além da dificuldade causada por essa limitação geográfica, há o fator tempo. Uma vez retiradas dos troncos, essas cascas levam cerca de nove longos anos para se formar novamente e possibilitar nova extração. Assim, diante do crescimento da produção e do consumo do vinho pelo mundo, foi necessário desenvolver alternativas para vedação das garrafas e surgiram as variedades sintéticas e as sroll caps (tampas metálicas de rosca).

Vem daí a primeira informação comunicada através das embalagens. A rolha de cortiça natural tem uma porosidade que permite ao vinho respirar o suficiente para sobreviver o tempo correto, numa garrafa específica. Porém, mesmo que ela se torne infiltrada e se danifique, não há trocas de sabor com a bebida. Ela poderá inclusive ser substituída, sem prejuízo de sabor para o vinho. Em contraste, a sintética modifica-se pela a ação do vinho e, em resposta, também prejudica sua qualidade. Por esse motivo, é adequada apenas aos vinhos de consumo rápido. Por sua vez, as scroll caps atendem a vinhos a serem degustados ainda mais rapidamente. Então, ao escolher um vinho, atente: os vedados por scroll caps devem ser consumidos dentro de três ou quatro anos. Para os que têm rolhas sintéticas, esse prazo se estende para cinco ou seis anos. Já a cortiça genuína permite o armazenamento por oito ou dez anos, no mínimo.

Ainda sobre as rolhas, o tamanho também é documento e informação. Quanto mais longa ela for, maior o tempo de guarda possível do vinho. Tempo que pode ser medido a régua: cada centímetro extra representa mais cinco anos. Enquanto uma rolha sintética menor indica guarda de cinco anos, uma igual, porém um centímetro maior, assegura o vinho em boas condições na garrafa por dez anos.

A garrafa também traz importantes indicadores. Embora todas as de vinho de mesa padrão tenham capacidade para 750ml, seus formatos, peso e cores variam bastante. E essas diferenças não são aleatórias. O vinho é frágil e pode ser afetado por mudanças bruscas. Assim, aqueles destinados a permanecer por mais tempo na garrafa requerem vidros escuros, que o protejam da luz e minimizem suas variações. Em contraste, uma garrafa branca, transparente, identifica um vinho que se destina ao consumo rápido, portanto sem necessidade de proteção contra a luminosidade. Já podemos então combinar os indicativos fornecidos por rolha e garrafa. Por exemplo, se estivermos diante de uma garrafa fechada por uma scroll cap, já sabemos que esse vinho deve ser consumido em aproximadamente três anos. Se, adicionalmente, essa garrafa for totalmente transparente, ele deve ser bebido ainda mais rapidamente. O uso de uma garrafa escura, mesmo para um vinho branco, é indício de que ele pode “sobreviver” mais tempo.

No que se refere ao tamanho da garrafa, quanto mais “confortável” estiver o vinho dentro dela, maior o seu tempo de sobrevivência. Modelos mais longos protegem melhor a bebida, dando a ela mais “conforto”. Logo, quanto mais curta a garrafa escolhida pelo produtor, mais rápido o vinho deve ser consumido. Mesmo entre duas garrafas fechadas por scroll caps, o vinho da garrafa mais baixa deve ser consumido mais rápido que o da mais longa. E, especificamente em relação aos tintos, a garrafa de gargalo mais alto é uma indicação de que eles aguentam mais guarda. Adicionalmente, há a variável peso: uma garrafa mais pesada protege melhor seu conteúdo, o que também indica maior tempo de guarda.

Sigamos em frente, descobrindo mais e aprimorando o prazer da degustação. E lembrando: nesse caso, nenhuma informação teórica pode substituir a experimentação. É o paladar quem determina, de verdade, qual é o melhor vinho para cada um.

Saúde!

Por Rosana de Moraes, em out’2017

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