rmlux

O Passado Inspirando a Inovação no Luxo

Muito do valor de um produto ou marca de luxo provém de seu tempo de permanência no mercado. Portanto, num mundo em que a maioria das empresas tem vida curta, não é à toa que as sobreviventes ostentem com orgulho suas datas de fundação e outras referências históricas.

Muitos nomes emblemáticos desse universo atestam o peso que a longevidade e a tradição exercem sobre sua atratividade. Apenas como exemplos, podemos lembrar, entre as marcas europeias, Moët & Chandon (1743), Gucci (1921), Guerlain (1828), Hermès (1837), Louis Vuitton (1845), Cartier (1847), Boucheron (1858), Prada (1913), Ferrari (1929). Entre as norte americanas, Tyffany & Co. (1837) e Ralph Lauren (1967). E, entre as poucas brasileiras, nomes como Fasano (1902, com interrupção e retomada em 1937), Copacabana Palace (1923), Amsterdam Sauer (1941) e H. Stern (1945).

Porém, se a tradição contribui fortemente para o sucesso das marcas de luxo, ela também pode se tornar um entrave à sua perpetuação. Isso ocorre devido ao risco da grande longevidade ser associada, pelo consumidor, a algo ultrapassado. Produtos de uma marca respeitada, mas que não ofereça atrativos aos consumidores jovens ou aos jovens de qualquer idade, tendem a tornar-se peças de museu. Afinal, ninguém gosta de parecer desatualizado. Além disso, quem que realiza sonho de consumo, logo o substitui por um novo, ainda que tenha ficado satisfeito com sua conquista anterior. Trata-se da inquietude própria do ser humano.

Assim, as empresas dedicadas a produtos e serviços de luxo têm o desafio de equilibrar-se entre dois conceitos aparentemente antagônicos: tradição e inovação. Mas, o que é mais interessante é que estamos assistindo, hoje, nesse segmento, ao que parece um paradoxo: a busca da inovação não apenas em paralelo à tradição, mas sim através de uma volta ao passado.

Nesse cenário, observam-se marcas revitalizando e relançando seus ícones, sejam eles produtos, embalagens ou elementos decorativos e arquitetônicos, que marcaram positivamente períodos passados. Para quem já as conhece de outros tempos, essas referências aguçam a memória afetiva, trazendo boas lembranças. Quem ainda não as conhece tem prazer em descobrir que esses “lançamentos” carregam consigo belas histórias. É o gosto pelo chamado “fusion” – a mistura de contemporaneidade com uma estética retrô.

É fácil observar essa tendência na prática. É o caso do relançamento das fragrâncias Le Male e Classique, de Jean Paul Gaultier, e Trésor, da Lancôme, todos lançados originalmente na década de 1990 e que voltaram agora ser produzidos. E também da suíça Montblanc, que incluiu, entre seus novos relógios para 2017, três modelos cuja coroa tem design vintage e o logotipo da marca exibido exatamente como na década de 1930. A referência retrô está presente também em suas pulseiras de couro, em tom conhaque. E o movimento atinge também bolsas, roupas, calçados…

No Brasil, a Amsterdam Sauer apresentou, recentemente, toda uma coleção de joias inspirada num ícone da marca – o premiado anel Constellation, criado em 1966.

A esses exemplos, somam-se produtos premium, aqueles não propriamente de luxo, mas cujo preço é mais elevado que usuais de sua categoria e têm design e qualidade superiores. Nesse grupo, podemos mencionar geladeiras, fogões, bicicletas, scooters e muitos outros itens que, apesar do estilo vintage, incorporam modernidades tecnológicas que garantem o desempenho esperado no mundo contemporâneo.

Como o luxo é tradicional criador de tendências, outros segmentos também vêm buscando, no passado, a inspiração para o futuro. É o caso dos lindos copos americanos coloridos Nadir Figueiredo, de embalagens e decoração de pontos de venda recriados por marcas como a Granado. Prestando atenção, você vai descobrir inúmeros outros casos que retratam essa deliciosa tendência.

É o luxo resgatando sua história como forma de evolução e influenciando outros setores na valorização do que já emocionou muita gente ao longo do tempo.

O passado revisitado está valendo ouro!

Por Rosana de Moraes, em jan’2017

Você também vai gostar