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É Luxo Sim, Uai..

Quando mencionamos o universo das chamadas bebidas finas, nossa lembrança se volta, tradicionalmente, para marcas estrangeiras de vinhos, champanhes, whiskies, vodkas e conhaques de alto padrão. Muitas vezes, nos esquecemos de um luxo verde e amarelo que se torna cada vez mais valorizado, mesmo fora de nossas fronteiras. É nossa brasileiríssima cachaça, que vem ganhando status de gourmet e sendo crescentemente apreciada pelos mais exigentes e requintados paladares.

A cachaça é resultado da destilação do caldo de cana-de-açúcar fermentado. Outras bebidas famosas também são destiladas, porém utilizando outras matérias-primas. É o caso da grappa de uva italiana, do kirsh de cereja alemão, da slevovice de sleva (espécie de ameixa) das Repúblicas Tcheca e Eslovaca, do whisky escocês de cevada, da vodka russa de centeio e da bagaceira portuguesa, feita do bagaço de uva. Aliás, cabe lembrar a diferença entre a cachaça e o rum, ambos provenientes da destilação da cana: enquanto o rum utiliza o caldo cozido da cana (melaço), a cachaça é feita com seu suco fresco (garapa), o que resulta em características químicas e, consequentemente, paladares diversos.

Hoje, apenas o destilado de cana produzido no Brasil e com teor alcoólico entre 38% e 48% a 20 graus centígrados pode ser chamado “cachaça”. A denominação é protegida, de forma semelhante à que ocorre com “champanhe” e “conhaque”, que só podem ser utilizadas em bebidas produzidas e engarrafadas nas regiões francesas que levam seus nomes, e dos Scotch whiskies, que devem ser mesmo escoceses.

Embora grande parte das cachaças mais conhecidas seja mineira, o primeiro registro histórico da bebida é da Bahia, na década de 1620, e, atualmente, vários estados produzem boas “pingas”. Como consequência do aprimoramento de sua qualidade e do reconhecimento que vêm merecendo, algumas marcas artesanais premium vêm alcançando preços compatíveis com o novo status, mas impensáveis para quem não acompanha o assunto. Estamos falando aqui de cachaças envelhecidas em barris de madeiras como o carvalho ou o bálsamo por até 18 anos, de edições limitadas e numeradas como obras de arte – produtos portadores de atributos fundamentais no universo do luxo: exclusividade, tradição, qualidade inquestionável, embalagem sedutora. Algumas delas chegam a ir a leilão, tal a sua excelência e raridade e, nesse caso, atingem cifras ainda mais altas.

Entre as mais caras, para citar apenas algumas, estão a gaúcha Weber Haus 12 Anos Lote 48, de edição limitada e numerada, cujo preço chega aos R$ 2.700,00, e a mineira Vale Verde 18 anos, que atinge os R$ 2.400,00. Na faixa de R$ 700,00 a R$ 800,00, destacam-se a também mineira Vale Verde 12 anos Edição Presente, a gaúcha Velho Alambique Cenário Edição Limitada, a fluminense Rochina 12 anos e a mineira Prazer de Minas Celebration, envelhecida por dez anos e engarrafada em cristal da tradicional marca alemã Bohemia. Esta última é oferecida também em refil, estimulando a reutilização da garrafa, que é praticamente uma joia. Finalmente, com preço que supera os R$ 500,00 e também envelhecida por dez anos, não pode ser esquecida a igualmente mineira Havana, considerada uma das percussoras da internacionalização da cachaça.

A qualidade das boas cachaças é decorrente do rigor em todas as etapas de sua fabricação – plantio e seleção da cana, fermentação, destilação, filtragem e envelhecimento. Para os que desejam se iniciar no prazer de sua degustação, vale conhecer algumas dicas de especialistas para escolher as melhores “caninhas”, ainda que elas não sejam assinadas por marcas tão famosas e tão caras.

Em primeiro lugar, as melhores cachaças são as “de alambique”, ou artesanais. Elas são resultado de uma produção mais cuidada, em pequenos volumes e, como o nome antecipa, são destiladas em alambiques. Em segundo lugar, conta muito o tempo destinado ao seu envelhecimento. Ao permanecer em tonéis de madeira por períodos mais longos, a bebida absorve melhor seus óleos e taninos, tem teor alcoólico reduzido e torna-se um pouco oleosa. Além disso, é modificada pelos aromas e sabores da madeira. É da madeira também que ganha colorações que variam do branco ao amarronzado, passando pelo amarelado e até pelo amarelo-ouro. No entanto, é importante saber que muitas marcas adicionam corantes para simular o tom das cachaças envelhecidas, o que vale uma boa leitura dos rótulos. Outro bom indicador da qualidade de uma cachaça é sua transparência, quando vista contra a luz: ela deve ser límpida, livre de impurezas. E por fim, é claro, a qualidade se traduz no sabor, que deve ser forte e macio, um presente para o paladar.

No mais, é bom lembrar que uma cachaça de alta qualidade merece ser degustada pura e com calma, intercalada com água e, de preferência, ao longo de uma boa prosa, para que todas as suas virtudes sejam percebidas. Um luxo reservado aos mais pacientes.

Por Rosana de Moraes, em set’2016

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