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A Mulher e a Bolsa – Luxo Feminino

A bolsa é muitas vezes mencionada como o item mais pessoal do vestuário feminino atual. Muito além de sua função de acomodar pertences, acredita-se que seu estilo pode ajudar a definir a personalidade de uma mulher, ao mesmo tempo em que reproduz uma tendência de moda. E muitas consumidoras a consideram uma extensão de sua própria identidade, que pode falar de algumas de suas características individuais.

Exagero ou não, as bolsas levam muitas mulheres à loucura e podem valorizar ou destruir um look. E a forte relação entre as duas vem de muito tempo, embora nem sempre a bolsa tenha sido considerada um objeto feminino – os primeiros exemplares dos quais se tem registro eram feitos de couro ou tecido e usados principalmente pelos homens, para levar valores e moedas. Estão presentes em antigos hieróglifos egípcios e até na Bíblia. Mais tarde, nos séculos XIV e XV, quando não havia ainda bolsos nas roupas, pequenas bolsas, presas aos cintos, eram usadas por homens e mulheres.

O tempo se encarregou de reforçar a ligação das bolsas com o universo feminino. Os vestidos volumosos usados nos séculos XVI e XVII passaram a esconder, sob eles, os “bolsos de coxa”. Eram pequenas bolsas, que ganharam este nome porque eram usadas aos pares, uma em cada lado do quadril e acessíveis através de aberturas laterais das roupas.
Mas o século XVIII trouxe vestidos mais retos e justos e, neles, não havia espaço para abrigar as bolsas (ou bolsos) de coxa. Surgiu então a “retícula” (“réticule” em francês), que era suspensa por uma corda ou corrente. Desacostumados à novidade, muitos franceses se referiam às mulheres que usavam essas bolsinhas fazendo um trocadilho: chamavam-nas de “ridicules” (ridículas)”. Feitas à mão, frequentemente por suas próprias usuárias, as retículas permaneceram na moda até as primeiras décadas do século XIX. Um fato curioso é que elas eram também chamadas “indispensables” (indispensáveis) pelos ingleses, sugerindo que as mulheres já haviam desenvolvido, à época, certa dependência de suas bolsas.

A Revolução Industrial, no século XIX, trouxe maior facilidade de locomoção, em barcos ou trens. As mulheres também ganharam mais mobilidade e fabricantes de bagagens adaptaram seus produtos, que atendiam às viagens a cavalo, para as novas formas de deslocamento. Foi nesse contexto que surgiu o termo “bolsa de mão” (“handbag” em inglês), primeiramente utilizado para descrever essas novas bagagens, que eram carregadas manualmente.

Tais bagagens de mão foram as precursoras das bolsas femininas atuais, nas quais é possível notar facilmente elementos de design herdados dessa origem: bolsos, fivelas, molduras, fechaduras e chaves. E muitos dos nomes mais representativos na indústria atual de bolsas de luxo começaram como fabricantes de bagagens e acessórios de couro. São exemplos a Hermès, fundada em 1837, por um fabricante de arreios e selins, e a Louis Vuitton, cujo fundador era empacotador de bagagens de parisienses abastados.

Ao longo do século XX, as bolsas passaram por inúmeras transformações, tendo a emancipação da mulher e sua presença crescente no mercado de trabalho como um de seus principais fatores de influência. Nasceram modelos destinados a novas necessidades, como as carteiras de documentos para o escritório, as bolsas práticas para uso diário, outras mais elegantes, para eventos especiais, e exemplares menores, em materiais mais nobres, para a noite. As bolsas foram alçadas à condição de item de moda.

Porém, como o luxo flerta com a tradição, certos modelos tornam-se verdadeiros ícones, que resistem à moda passageira e permanecem, no século XXI, ganhando variações de cores, texturas e até estampas, de acordo com as coleções das diversas marcas. Alguns desses clássicos tornaram-se o que hoje denominamos “it bags”, desejos de consumo de muitas mulheres.

São exemplos a Birkin (Hermès, 1990), rebatizada, nos anos 1980, com o sobrenome da cantora e atriz Jane Birkin (que recentemente pediu a desvinculação de seu nome dos exemplares de couro de crocodilo); a Kelly, (também Hermès, 1935), rebatizada em 1956 em homenagem à princesa Grace; a Louis Vuitton Speedy (década de 1930); o modelo com alças de bambu (Gucci, 1947), lançado no pós-guerra, quando o couro tornou-se caro e escasso; a Jackie (também Gucci, 1950), que em 1960 ganhou seu nome atual, em alusão à então Sra. Kennedy; a 2.55 (Chanel, 1955), inspirada nas botas dos jóqueis; a Lady Dior (1995), cujo nome presta tributo à Lady Di; e a Baguette (Fendi, 1997), celebrizada pela personagem Carrie Bradshaw, da série “Sex and the City”.

Assinadas ou não por marcas de prestígio internacional, as bolsas podem, de fato, falar muito sobre suas donas e muitas delas despertam, merecidamente, fortes desejos de consumo entre as mulheres. Porém, nunca é demais lembrar que os aspectos mais importantes da personalidade e da elegância de qualquer pessoa são, na verdade, aqueles invisíveis. Estes são luxos que não têm preço.

Por Rosana de Moraes, em set’2016

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